Poema #2: Bebei, Cantai, Soldado

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Bebei, como se a noite fosse eterna!
Como se o Sol se houvesse sepultado,
Como se o mundo fosse uma taverna,
Como se a vida houvesse se acabado.


Todos que eram caros já se foram.
Deixaram só saudade e o pó dos ossos.
Suas memórias pálidas nos agouram,
Gelam com seus olhares os peitos nossos.


Bebei  em sua memória e cantai forte.
Cantai até partirem seus pulmões.
Cantai até buscarem vossa morte
No fio da espada ou balas dos canhões.


Cantai, soldados, a guerra nunca finda.
Não vivereis para ver este final.
Pois tu, teus filhos e teus netos 'inda
Hão de morrer por golpe de punhal.


por Errol, O Bardo do Oeste


 imagem do fantástico Mariusz Kozik


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Poema #1: Elas brincam conosco

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Como ela pode?
Me atrai sem me chamar,
Me tira do meu descanço,
Me faz correr atrás.
Te encontro e

Me vira a cara,
Me esnoba,
Me faz segui-la como um cão,
Me faz quere-la ainda mais.
Se esforça pra me enraivecer
Eu justifico em minha mente,
Tenho todos os motivos,
Alguns eu mesmo invento,
Pra te odiar!

Você me lança um sorriso.
Apenas um.
E transforma todos os meus motivos,
Antes tão sólidos,
Tão rocha,
Em pó.
Em nada.
E eu não consigo sentir mais nada
Além de amor, além de paixão.
Te abraço, você me abraça de volta.
Te beijo, você me beija de volta,
Põe meu peito em chamas.

Mas depois me solta,
E me vira a cara.
De novo me esnoba,
Brinca comigo,
Se diverte com isso.
Com um sorrisinho irônico,
Iluminando os lábios.
E de novo eu corro atrás.
Mas como você gosta de brincar comigo!
E como eu gosto de fazer papel de idiota!
Isso mesmo!
Como eu gosto de amar!

por Errol, O Bardo do Oeste

imagem por hellobaby

"Vamos nadar?"

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  Vamos nadar?  

    Tão no fundo que seus pés alcançam o chão. Você olha para o alto e vê uma luz, que, ainda que trêmula e pálida, parece a coisa mais bela do mundo. O desejo pela luz que surge dentro de você é tão forte que chega a doer. Você não pode esperar nem mais um segundo.  Impulsiona-se com suas pernas, desejoso que está de alcançar aquela luz. No início sobe rápido, tranqüilo, sem perceber ainda a profundeza em que se encontra e as dificuldades que vão surgir. O início é sempre fácil.

    Mas isso passa. A luz parece nunca ficar mais próxima, e o desespero começa a encher seu coração, como a água gelada enche seus pulmões. Seus músculos parecem se rasgar, se romper, se soltar. Doem de frio. Doem de fome. Doem de cansaço. Você pára por um momento, tem dúvidas, pensa em não continuar. Olha em volta e para baixo, vê as algas se enroscarem em seus pés, te prenderem. Vê aqueles que já desistiram te puxarem para baixo, tentarem te convencer que não vale à pena.

    Você desiste e se une à eles.

    Ou:

    Você volta a nadar. Cada momento que você permaneceu parado, em dúvida, cobrou seu preço. Você está mais cansado, tem menos oxigênio, menos esperança. As braçadas lhe custam mais. Você olha para a luz no alto e não tem mais certeza que ela esteja lá. Ela treme, dança, pode sumir a qualquer momento. Uma efemeridade que a torna bela.

    Mas eis que surgem aqueles que não tentam te arrastar para as profundezas. Há aqueles que, tendo parado antes, te empurram para cima, passando suas próprias esperanças para você. Há aqueles que, estando acima de você, te puxam, te guiam pelo caminho que eles já trilharam. 

    Talvez mais importantes, há aqueles que nadam ao seu lado. Vocês se ajudam, se amparam, se ensinam.  Os amores, os amigos, os companheiros, os irmãos. Nadam todos juntos, de braços dados, ansiosos que estão de chegar a luz.

    Até que você percebe que não sente mais frio. Não sente mais fome. Não sente mais cansaço, ou falta de oxigênio. Não está mais escuro à sua volta.

    Você jamais alcançará o topo, ele não existe. A luz não está lá em cima. Ela está em cada um de nós, e brilha forte quando estamos juntos. Quando nadamos com nossos amigos, nossos amores, nossos companheiros.

    E então... Vamos nadar?






P.S.: Para quem não entendeu, Luz = Felicidade.

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